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sexta-feira, 19 de abril de 2013

Categorizações do Ecodesign


Com o passar dos anos a relação entre recursos naturais (renováveis e não renováveis), energéticos e humanos vêm sofrendo grandes alterações, em consequência disso o impacto da Indústria no Meio Ambiente tem aumentado exponencialmente. Com essas alterações tornou-se evidente a necessidade de rever e criar conceitos; embora os primeiros passos para essa revisão tenha tido início apenas nos anos 60 e foi nos anos 90 que houve uma ligação entre a temática ambiental e a produção industrial. Essa ligação apenas ocorreu após as discussões políticas e normativas ocorridas nos anos 80.

Portanto, tornou-se indispensável que as reflexões quanto ao impacto ambiental de cada produto ou serviço seja realizada durante a idealização do mesmo, uma vez que segundo a UNEP (United Nation Emvironment Programe) de 60% à 80% de todos os impactos causados ao longo do ciclo de vida do produto são determinados na fase de seu projeto.


O objetivo do ecodesign é projetar ou “reprojetar” produtos e/ou serviços tendo como base critérios ecológicos; sem comprometer a aparência, desempenho e função do produto, assim como também tem a capacidade de renovar processos produtivos e hábitos comportamentais. Sendo assim, um produto que possui a filosofia do ecodesign não é apenas ecologicamente correto, ele também é economicamente, culturalmente e socialmente correto, ou seja, ele se preocupa com a minimização do uso de recursos não renováveis (como energia, água, ar e território), de materiais de embalagem, de transporte, de resíduos que o ecossistema não é capaz de reabsorver, de impactos causados na região onde ocorre a produção do produto, entre outros. Ele também tem como missão analisar todo o ciclo de vida do produto (desde a concepção até o descarte), que por sua vez é a ferramenta mais completa de avaliação de produtos e é capaz de analisar diversos fatores impactantes simultâneos ou não.

Segundo Silvia Barbero e Brunella Cozzo o Ecodesign segue o princípio Form Follows Function,ou seja, a forma está a serviço da função. Os produtos idealizados dessa maneira são flexíveis e duráveis, modulares ou multifuncionais e adaptáveis ou recicláveis.

Em um de seus livros, as ecodesigners citadas acima explicam os nove critérios em que podemos categorizar e identificar o ecodesign. Porém, embora ocorra a categorização, um produto não deve ficar preso apenas á um critério, a grande maioria de produtos que tem a filosofia do ecodesign ultilizam em média dois critérios. Segue abaixo a explicação de cara critério.

Design por componentes

Tem como propósito determinar e otimizar a forma do produto a partir da dimensão e disposição dos componentes em seu interior. Cada componente é considerado como um protudo acabado, com um ciclo de vida independente, porém atuando em conjunto. O projeto tem início com a análise do equipamento desmontndo e com os componentes separados por tipo. Com essa categorização é possível analisar as relações entre os componentes, as leis físico-mecânicas que os caracteriza e as tecnologias de produção. Com todas as partes definidas, são identificados os elementos-chave para que o equipamento funcione, e então passa-se a fase de criação.



Durante a concepção do produto o designer e/ou o engenheiro de produto deve trabalhar tendo como linha de orientação integrar componentes de mesmo material, evitar o uso de materiais diferentes, reduzir ao mínimo a produção de resíduos, determinar os pontos de abertura para facilitar a remoção rápida de partes e evitar formas e sistemas que resultem em processos de desmontagem longos.

Redução de material e Design para desmontagem

Tem como objetivo desenvolver produtos para que sejam produzidos com uma quantidade otimizada de materiais e energia. Com a redução de materiais é possível preservar os recursos naturais e reduzir as emissões ao Meio Ambiente, devido a utilização cuidadosa dos materiais utilizados. Um dos deveres do designer e/ou o engenheiro de produto quanto desenvolve um produto seguindo esse critério é evitar o uso de materiais diferentes, a fim de facilitar a reciclagem e a disposição final do produto.

Atuando em conjunto com a redução de material, o design para desmontagem tem como princípio desenvolver objetos de forma que facilite a desmontagem para realizar a reciclagem ao término da vida útil do mesmo. Devido a isso é extremamente importante que o reconhecimento dos componentes do equipamento seja de fácil identificação. Em alguns países há normas que preveem a identificação dos equipamentos e de seus componentes, aqui no Brasil temos algumas normas para classificação de materiais, a norma técnica NBR13230 prevê a classificação dos plásticos, por exemplo.


Material único e Materiais bio

Embora seja um critério simples de ser executado, muitas vezes é deixado de lado pelo ecodesigner. Geralmente a procura por um material atraente fala mais alto que a questão ambiental e consequentemente há uma maior exposição e comercialização de produtos inimigos do meio ambiente. Decisão que por sua vez contradiz o projeto sustentável, que significa utilizar os recursos mais adequados à um objeto e sua função em vez de buscar satisfazer as leis do mercado.

Levando em consideração a simplicidade no processo produtivo e na reciclagem é muito vantajoso projetar utilizando apenas um material, geralmente esse tido de desenvolvimento aplica-se em produtos com baixa complexidade, descartáveis e componentes de produtos com maior complexidade.

Devido toda complexidade ambiental de extração, transformação e descarte de recursos naturais, o ecodesign buscar orientar-se para o uso de materiais bio. Os materiais bio são os materiais naturais e derivados de produtos naturais, como por exemplo a sacola plástica a base de amido de milho e folhas ou lenços de papel.

Reciclagem e Reutilização

Embora sejam bem parecidos e causadores de grande confusão quanto ao entendimento, a diferença entre ambos vem da natureza dos produtos utilizados. A reciclagem tem como objetivo transformar os aspectos físicos e reutilizar o material, já a reutilização prevê o uso do material em outra função sem modificar os aspectos físicos do mesmo. Podemos assim afirmar que no caso da reciclagem os materiais duraram mais que o produto e no segundo caso trata-se do próprio produto.

A reciclagem possui inúmeras categorias, as mais famosas são a reciclagem em cascata, pós-consumo e pré-consumo. A primeira tem como princípio recuperar os materiais para uso mais simplificado do que o original, devido a perda de qualidade estrutural e química do material. Por exemplo, se os resultados da produção não forem satisfatórios, cancela-se a mesma e utiliza-se a matéria–prima para outro produto. A reciclagem pós-consumo é a mais conhecida e consiste em transformar materiais ou partes do produto no término do seu ciclo de vida depois da realização de uma coleta seletiva. A menos conhecida é a reciclagem pré-consumo, que nada mais é do que reaproveitar possíveis rebarbas e produtos com defeito antes que o produto chegue ao mercado.


Redução de Dimensão

Dentre os objetivos a serem atingidos durante o desenvolvimento de um produto, o engenheiro de produto e/o designer devem ter em mente reduzir, compactar e limitar os consumos durante o transporte. Além de colaborar para a economia de materiais, um projeto de dimensões inteligente evita excessos de consumo durante o transporte, sejam eles com combustível, espaço ou embalagem. Há dois princípios que devem ser seguidos durante a concepção desse tipo de produto: o projeto conjunto de produto e embalagem e a montagem após a compra.

Levando em consideração o princípio da embalagem, a mesma deverá aderir o objeto ao máximo, protegendo-o e evitando zonas vazias entre um objeto e outro. Essa ação por sua vez não diminui a força de comunicação da embalagem, cujo o objetivo compõe a apresentação do produto.

A questão do transporte não se limita apenas a redução de peso e dimensões da mercadoria, o tipo do meio de transporte também é extremamente importante. A utilização de transportes alternativos, conforme a disponibilidade da região que irá receber o produto, é capaz de permitir uma redução ainda maior das emissões de CO2.

Design dos Serviços

Proporciona a troca de um produto por um serviço. Esse critério estuda sistemas alternativos ao uso exclusivo de um produto. Geralmente esse tipo de ação tem grande aceitação, uma vez que a utilização de um bem nasce da necessidade de facilitar uma ação e não do desejo de possuir o produto.

O item a ser oferecido é um mix de produto e serviço, uma vez que há apenas um dono que oferece o serviço para várias pessoas, o proprietário terá benefício financeiro e também contribuirá para diminuição do consumo de recursos, de emissões de poluentes e desperdícios de forma geral, considerando que o mesmo tem interesse em cuidar do produto para que dure o máximo possível. Vou dar um exemplo pessoal para facilitar o entendimento e percebermos esse tipo de ação em nosso cotidiano. Eu adoro andar de patins, porém, ando mal e os parques que possuem pista não são tão pertos da minha casa, considerando todos esses fatores seria muito melhor para o meu bolso e para o meio ambiente se, ao invés de comprar um patins, eu alugar um toda vez que quisesse andar de patins. Assim como com o patins, esse tipo de ação se aplicada à veículos pode reduzir a necessidade de uso do produto e a agressão ao meio ambiente.

Tecnologia para Sustentabilidade

Consiste em desenvolver uma tecnologia com impacto ambiental reduzido. Sendo assim, é possível utilizar a tecnologia para melhorar a eficiência dos produtos, contribuir com o menor gasto de energia, integrar diversas funções em um único objeto e também fazer uso das nano e das biotecnologias. A evolução tecnológica para a sustentabilidade funciona maximizando progressivamente a economia de materiais e o incentivo a difusão dos serviços. Vale lembrar que cada vez mais as tecnologias verdes têm ganhado espaço no mercado. Ao contrário da projeção convencional, o ecodesign move-se tendo em mente que a comunicação entre os sistemas é aberta e transversal, o que possibilita a criação de produtos que fogem as tecnologias de vanguarda e quebram paradigmas que pareciam inquebráveis.
Ecopublicidade


É natural que para divulgarmos a sustentabilidade utilizemos os meios de comunicação tradicionais, porém, a ecopublicidade existe de diversas formas e níveis. Não é apenas através de campanhas utilizando o slogan e o grafismo (seus instrumentos de expressão imediatos) que as mensagens ambientais chegam ao público. Cada vez mais há produtos que dizem ser sustentáveis e fazem disso o seu cavalo de batalha, no entanto, esses produtos transmitem a mensagem de forma direta, como parte do seu design ou tendo certificações ambientais que resultam de processos complexos e meticulosos, que geralmente são de difícil leitura para quem adquire o produto. Há também os que convidam o consumidor a ter um comportamento sustentável ou propõe jogos educativos que estimulam as crianças a adquirirem uma postura sustentável.

Podemos concluir que a sustentabilidade pode ser um assunto direto ou um instrumento para valorizar e promover um produto no mercado.

Design sistêmico

O ecodesign atua sobre um conjunto de valores sociais, culturais e éticos, sendo assim, leva em conta os sistemas e as relações que os produtos são criados. Devido a isso, é extremamente importante programar e determinar o fluxo de matéria que passa de um sistema ao outro, uma vez que o ciclo econômico reduz o aspecto ecológico dos produtos. Dá-se o nome de design sistêmico o estudo realizado em todos os produtos secundários e de refugo que resultam do uso de recursos naturais, a fim de obter uma grande quantidade de informações e uma avaliação real dos impactos causados. Com isso, o design sistêmico visa o desenvolvimento de um novo modelo de produção, em que os ciclos industriais são abertos e ligados entre si e que por sua vez geram fluxos de recursos materiais e de recursos energéticos em que nenhum refugo fica sem utilização, contribuindo para que o sistema se torne estável a longo prazo.

Para finalizar esse post sobre o que é ecodesign gostaria de compartilhar uma definição sobre a proposta sustentável segundo Carlo Vezzoli e Ezio Manzini:

“Uma proposta susntetável é centrada em recursos renováveis, não acumula resíduos que o ecossistema não é capaz de reabsorver e faz com que indivíduos e comunidades ricas permaneçam no limite de seu espaço ambiental e que indivíduos e comunidades pobres possam efetivamente aproveitar do espaço ambiental ao qual potencialmente tem direito”.

Postado originalmente no blog Chocoladesign.




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